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27 de Abril de 2024

Jornada exaustiva: Motoristas do Uber buscam direitos trabalhistas na Justiça

Publicado por Danilo F Freire
há 7 anos

Jornada exaustiva Motoristas do Uber buscam direitos trabalhistas na Justia

Rodam nas ruas do país hoje mais de 50 mil motoristas cadastrados no aplicativo Uber. A relação entre a empresa e os profissionais, porém, tem dado os sinais iniciais de desgaste, e já surgem os primeiros processos trabalhistas contra a gigante norte-americana, que em junho deste ano valia US$ 62,5 bilhões. No Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região (TRT3), que abrange Minas Gerais, já são quatro processos em andamento, com audiências marcadas para 2017 e 2018.

Pioneiro. Wagner de Oliveira, primeiro motorista a processar o Uber na Justiça do Trabalho no país, duvida de avaliações do aplicativo

“O Uber está prejudicando os motoristas. O valor da tarifa não se sustenta, mas quem fica com o prejuízo é o dono do carro. Quando a ficha cai, no caso dos que estão há mais tempo rodando, os novos substituem. A maioria das pessoas que entrou é porque perdeu o emprego, elas não sabem o que estão fazendo”, afirma Wagner Martins de Oliveira, 56, o primeiro motorista a entrar com um processo trabalhista contra a empresa no Brasil."

Wagner entrou na Justiça para requerer R$ 40 mil em função de vínculo empregatício, mais R$ 80 mil de um veículo que ele financiou para trabalhar com o aplicativo. Ele conta que foi afastado do Uber sem poder se defender. “Eles dizem que me tiraram porque a avaliação era baixa, mas eu não acredito. Esses índices são manipulados”, diz.

Essa também foi a motivação de Artur Soares Neves, 29, para entrar na Justiça do Trabalho. “Eu tinha uma avaliação muito boa e me tiraram do aplicativo. Fui até o escritório do Uber para entender o motivo, mas eles não falam. Dizem apenas que foi mau uso do aplicativo”, relata Artur.

Outros motoristas que usam o aplicativo, porém, discordam dos processos. “Não vou dizer que é bom. Estou no Uber porque não tenho opção, fui dispensado do emprego e não consigo recolocação. Mas acho que falar em relação trabalhista é desonesto, porque no contrato está lá, sem vínculo; usa o aplicativo quem quer”, afirma um ex-professor que hoje é motorista do Uber e optou por não se identificar.

Exaustivo

O advogado trabalhista que atende Neves no processo, Pedro Zattar Eugenio, diz que outro problema é a extensa jornada de trabalho para garantir uma remuneração pequena. “Tenho um cliente que trabalhava 14 horas por dia para ter um ganho de um salário mínimo”, afirma Eugenio, sobre outro cliente que também processa o Uber.

Mesmo não considerando o processo, o ex-professor confirma a jornada exaustiva. “Trabalho 12 horas por dia para pagar as contas. O valor (da tarifa) é muito baixo”, diz. “Se o motorista colocar na ponta do lápis combustível, desgaste do carro, impostos, multas, vai ver que não vale a pena”, completa.

Sem segredo

Negados. Os pedidos para que os processos do TRT 3ª Região corressem em segredo de Justiça feitos pela Uber foram indeferidos pelos juízes pelo caráter de interesse público que possuem.

CONTROVERSO

Vínculo divide especialistas

A legislação brasileira determina, que para haver vínculo empregatício, devem existir quatro elementos na relação de trabalho: pessoalidade, onerosidade, não eventualidade e subordinação.

Para o advogado especializado em direito digital Bernardo Grossi, todos esses elementos estão na relação entre motorista e Uber. Ele explica que a pessoalidade existe porque o motorista se cadastra e apenas ele pode conduzir o carro; não é um trabalho eventual, mesmo que o condutor defina horários específicos; quem paga o motorista é a Uber, e quem define as regras e a tarifa é a empresa, o que denota subordinação. “Se a empresa estabelece um negócio antigo, não adianta usar o pretexto de que é inovadora. A Uber é uma empresa de transporte, e no meu entendimento existe vínculo empregatício”, diz.

Já o advogado trabalhista Léucio Leonardo afirma que não vê a “menor possibilidade” de se configurar uma relação de emprego. “A pessoalidade existe, não há dúvida, mas não há remuneração: quem paga o motorista é o passageiro, a Uber apenas repassa o dinheiro. Não existe empregado que fica com 75% da renda e o empregador com 25%. Além disso, não há subordinação, o motorista trabalha quantas horas quiser”, argumenta. Ele destaca que “em uma relação de emprego, a ferramenta de trabalho nunca é do empregado, não é ele que assume o risco. Já com o motorista da Uber, o risco é dele”, explica. (LP)

Aplicativo responde e salienta independência do profissional

Segundo a Uber, os motoristas são “parceiros” e “empreendedores que escolhem usar o aplicativo porque, além da renda, buscam independência”, afirma a nota enviada.

“Hoje já são mais de 50 mil motoristas parceiros que geram renda para si mesmos e suas famílias ao toque de um botão usando a plataforma da Uber. Esses parceiros são empreendedores que escolhem usar a Uber porque, além da renda, buscam independência no seu dia a dia, ao invés de uma relação empregatícia de subordinação a uma empresa ou chefe. Como são independentes, os motoristas parceiros da Uber podem, por exemplo, recusar viagens, ou determinar quantas e quais horas querem trabalhar. Mais que isso, é importante ressaltar que não é a Uber que contrata os motoristas, mas os motoristas que contratam a Uber – eles escolhem usar o aplicativo, de forma não exclusiva, para encontrar usuários na sua região e fornecer seus serviços de transporte individual privado”, diz a nota na íntegra. (LP)

PONTOS DE VISTA

“O carro é avaliado, o motorista precisa oferecer água, bala, ar condicionado, e quando ocorre uma avaliação ruim, ele é desligado. É subordinação”. João Rafael Guimarães, advogado“O motorista é empreendedor, porque empregado não assume risco. Ele roda no horário que quer, não tem definição de horário”. Léucio Leonardo, advogado

Por Ludmila Pizarro Fonte: otempo

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116 Comentários

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Brasileiro sempre arruma uma forma de estragar algo bacana. continuar lendo

Algo bacana para quem? Para a empresa que ganha sem precisa sair nas ruas ou o usuário que quer economizar migalhas para gastar horrores em suas viagens ou em restaurantes e lojas caras? Pq é muito bacana ver gente planejando sua viagem, contratando hotel, passeios, passagens e em nada pede desconto, mas o transporte que leva para o aeroporto, que deveria ser o mais valorizado pq está levando vc sua família e suas bagagens, aí quer economizar. Não dá a mínima para o risco e que poderá ficar no meio do caminho pelo fato do automóvel estar rodando tanto ou pelo motorista não ter condições de fazer manutenção preventiva. continuar lendo

Ricardo Euleterio, o transporte é o meio, não o fim das férias, favor não inverter valores. continuar lendo

Bom, não é propriamente o brasileiro, mas o ordenamento jurídico brasileiro. Este sim, é o que garante que estamos fadados ao subdesenvolvimento enquanto estivermos presos a ele. continuar lendo

Ricardo , o UBER fica com a menor parte e o motorista que QUISER fica com a maior parte. Basta que ninguém queira e fica provado que o negócio é ruim. continuar lendo

Concordo com o Sr. Ricardo Eleutério e discordo plenamente dos defensores do UBER. Essa "firma" produz o que para ficar com 25 % do bruto, sem levar em conta que é ela que define esse valor. Se deixarmos para o corretor de imoveis avaliar nossa propriedade para venda é obvio que ela sera vendida pelo preço mais baixo por ser mais rápida a liquides e com isso a sua comissão. No caso do UBER ele opera de uma forma não muito criteriosa ao oferecer um serviço de primeira (não as custas dele) por um preço menor que o tabelado pelo governo. Ainda que fosse menos "faminta" e contenta-se com 6 ou 7 % de comissão com o valor tabelado poderia aceitar-se um pouco essa firma, mas enquanto o brasileiro não valorizar, nem que de forma xenofóbica, o seu país, continuaremos a ser a Senzala do mundo civilizado.
E tome-lhe nos ombros que foram feitos para o açoite. continuar lendo

Claro, UBER malvado, bom mesmo é ser taxista com seu lindo cartel. continuar lendo

Se liguem cambada

Torço para que todos aqueles envolvido nisso motorista e advogados saiam da audiência com uma mão na frente e outra atras.

A UBER vende um serviços
Ela conecta pessoas através de um plataforma digital.
Quem se diz motorista tem algumas opções:
Comprar um táxi;
Montar uma empresa de transporte individual de pessoas;
Ou oferecer seu serviço de motorista através do uber ou qualquer plataforma parecida.

Simples assim

Agora o uber, vai lhe exigir certas obrigações e diferencias para que a outra ponto do serviço, o passageiro se sintam valorizados com um serviço diferenciado.

Algum motorista foi coagido a se credenciar no uber?
Não.

Tão reclamando do que?

Leem o contrato, assinam e agora querem mudar a regra do jogo no meio da partida.

Sugiro aqueles que não deram certo como parceiro da uber a comprarem um táxi ou então procurar emprego de motorista de ônibus ou de empresa de aluguel de carro... continuar lendo

Jornada exaustiva? Não faz sentido, se sãos os próprios motoristas que fazem as suas jornadas, não seria só trabalhar menos?
É como se fosse revendedor de cosméticos, se eu quiser mais dinheiro, terei que passar mais tempo trabalhando. continuar lendo

Não exatamente Jean, neste caso devido ao baixo repasse das tarifas para os motoristas, e como a maioria que opta por dirigir pelo uber está desempregada, para que a pessoa consiga fazer um valor mensal suficiente para cobrir as próprias despesas, acaba tendo que trabalhar 12 ou 14 horas por dia. considerando o trânsito de uma forma geral existente no Brasil, é tremendamente exaustivo. Essa questão de trabalhar somente por um pequeno período só vale para quem usa o aplicativo como complementação do salário e não como única fonte de renda. continuar lendo

Sou ex taxista, fui para a uber para não ficar sem renda, a uber dominou o mercado com sua mega capacidade de marketing e de subsidio de tarifas, hoje você é obrigado a aderir a plataforma, a tarifa irrisória só beneficia a uber e o usuário, o motorista fica com a depreciação do veículo e os R$0,70 por km continuar lendo

Vou colar aqui o comentário de @wesleyleoni:
"Heloisa, já tentou sustentar uma casa vendendo Natura, Avon, Jequiti ou gravando vídeos para o Youtube? A regra é a mesma se você quer manter um padrão de vida de 5 salários mínimos com esses meios, vai encontrar sérios problemas com a rentabilidade oferecida. Tudo vai de você ver se tem ou não condições de aposta em um modelo de negocio." continuar lendo

Daqui a pouco vem o Estado regular.....Acabar com a livre iniciativa e o empreendedorismo com a ideia de Estado máximo....e aqui já vimos no que dá.... continuar lendo

Então pela visão do "especialista" Bernardo Grossi um motorista de caminhão autônomo (isto é, que opera um veículo de sua propriedade) deveria ser prejudicado pelo seu bom nome perante uma determinada transportadora, que confia no mesmo, e deveria ser tolhido por ela, mesmo tendo bom trânsito lá por sua eficiência nos serviços prestados anteriormente, com o único fim de não criar vínculo empregatício?

Para mim a principal questão foi respondida pela própria nota do UBER: - "de forma não exclusiva".

Logo nada impediria o indivíduo de abrir o próprio negócio utilizando o mesmo carro, ou seja, transporte executivo, eventos (casamentos, formaturas, etc), dentre outros serviços. continuar lendo

Eu não sei se você sabe, mas exclusividade não é requisito para a configuração do vínculo de emprego... continuar lendo

Prezado "fake",

Mas não exclusividade é indício de empreendedorismo.

Complementarmente, se durante o seu primeiro ano de atuação no direito um jovem advogado conseguir apenas dez atuações como correspondente e pequenas causas exclusivamente nesse site quer dizer que, por analogia, terá um vínculo empregatício com o Jusbrasil? continuar lendo

É possível até que o motorista arrume um serviço "mensalista", ou seja, que por determinado valor para um certo trajeto busque e leve alguém todos os dias da casa para o trabalho ou estudo.

Um cuidado especial é não configurar o ramo de "transporte escolar", pois esse é mais fiscalizado pelo poder local do que os demais e tem uma legislação extremamente chata ao nível do dono de uma van ou ônibus autorizado para execução desses serviços, em alguns lugares (artesp, por exemplo), não poder utiliza-lo em seu tempo livre nem para fins particulares como ir com a família à praia ou ao mercado. continuar lendo

Sílvio, legislação "extremamente chata" para transporte escolar pqe ? A norma preconiza a plena manutenção do transporte somente como reservado e restrito o seu uso único e exclusivamente para esse fim e sem uso alternativo, visto que tal poderia depreciar a qualidade exigida no veículo para esse tipo de transporte, afinal muitos transportam somente crianças. continuar lendo